Redução da radiação nos exames pediátricos diminui risco de carcinoma cerebral



O risco de carcinoma cerebral ou leucemia na criança pode ser diminuído em 24% através da redução de radiação nos exames pediátricos de tomografia computorizada, de acordo com as conclusões de um estudo da Escola Superior de Tecnologia e Saúde de Coimbra (ESTeSC).

A investigação “Otimização dos níveis de dose em Tomografia Computorizada (TC) pediátrica”, que vai ser apresentada em livro esta quinta-feira, estabelece os níveis de referência de diagnóstico e a otimização dos valores de dose de radiação nos exames pediátricos em Portugal.

“A investigação permitiu alertar os profissionais, implementar novas práticas nos exames de radiologia e diminuir o risco associado à radiação a que as crianças estão expostas quando necessitam de realizar exames de TC”, referiu a ESTeSC, através de comunicado de imprensa enviado ontem à Agência Lusa.

Citada no documento, a autora, Joana Santos, professora de Imagem Médica e Radioterapia, referiu que, “na última década, o uso da TC pediátrica aumentou consideravelmente”, expondo as crianças a “parâmetros de exposição semelhantes aos de adulto”.

A docente alertou para ainda que “na pediatria o efeito da exposição à radiação é maior” e acrescenta que existem estudos que “apontam no sentido de uma Tomografia Computorizada crânio-encefálica aumentar três a quatro vezes a probabilidade da criança vir a desenvolver um carcinoma cerebral ou uma leucemia”.

Segundo o comunicado da ESTeSC, à data do início do estudo, em 2011, Portugal não possuía valores de dose de referência para exames de TC, “pelo que o ponto de partida foi uma análise nacional que permitiu a definição da frequência de exames de TC, a caracterização do parque tecnológico e a determinação de Níveis de Referência de Diagnóstico”.

“Posteriormente, foram analisados os valores de dose em TC pediátrica nos três centros de referência pediátrica do país: Hospital Dona Estefânia, do Centro Hospitalar Lisboa Central, Hospital Pediátrico do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (dois hospitais exclusivamente pediátricos) e o Centro Hospitalar São João”, lê-se na nota.

De acordo com o estudo, o trabalho experimental identificou parâmetros que permitem a “redução da dose média de 13% a 65% sem uma redução na qualidade da imagem, permitindo estabelecer os níveis de referência em Portugal para exames de tomografia de adultos e pediátricos”.

“Os resultados foram comunicados aos departamentos clínicos das instituições analisadas, que passaram a implementar estes valores”, acrescenta o comunicado.

A autora realizou testes de otimização com simuladores que representam recém-nascidos, crianças de cinco e 10 anos de idade, permitindo assim adequar os protocolos utilizados aos diferentes grupos etários.

A especialista Joana Santos explica que, no caso das TC, tem de existir uma adequação do procedimento ao paciente por parte do técnico, de acordo com características físicas, como, por exemplo, se são magros ou obesos.

No caso de crianças, a variabilidade oscila entre a criança de colo até ao adolescente.

A otimização das várias etapas do procedimento também envolveu a melhoria dos protocolos e de um dos ‘softwares’ utilizado.

Comparando os Níveis de Referência de Diagnóstico de TC pediátrica nacionais obtidos no início e no fim do estudo, a ESTeSC adianta que se obteve uma redução de 24% dos valores de dose de radiação.

Estes valores foram já utilizados como referência nacional para o cálculo dos Níveis de Referência de Diagnóstico Europeu de TC pediátrica, no âmbito da campanha de promoção de proteção radiológica no espaço europeu.

Fonte: Jornal Médico – Todos os direitos Reservados