Obesidade em crianças quadruplica o risco de diabetes tipo 2



Crianças obesas têm um risco quatro vezes maior de desenvolver diabetes tipo 2 em comparação com crianças de peso normal, descobriram pesquisadores do Reino Unido em um estudo de prontuários eletrônicos.

Ao avaliar dados de mais de 350.000 crianças os pesquisadores determinaram que, embora o número de casos de diabetes tipo 2 permaneça relativamente baixo em comparação com o diabetes tipo 1 em crianças, a incidência do tipo 2 aumentou acentuadamente nos últimos anos, para uma taxa de mais de 33 por 100.000 crianças em 2013, estando fortemente associada à obesidade.

A pesquisa foi publicada on-line em 25 de abril no Journal of the Endocrine Society, um periódico de acesso livre lançado em janeiro deste ano.

Em comentário ao Medscape o autor principal Dr. Ali Abbasi, do Departamento de Atenção Primária e Ciências da Saúde Pública, do King’s College,em Londres (Reino Unido), disse ser importante que os clínicos gerais, os médicos de família e a sociedade em geral estejam cientes dessas tendências.

Isso representa “uma importante mensagem de saúde pública”, destacou ele, acrescentando: “Temos de investir em projetos de pesquisa para entender as tendências, incluindo tendências na obesidade, nesta geração de crianças, e como devemos priorizar a prevenção e as intervenções no futuro”.

Embora estudos recentes tenham sugerido que aproximadamente um terço das crianças no Reino Unido esteja com sobrepeso ou obesa, há poucos estudos sobre a associação entre obesidade e tendências temporais na incidência de diabetes neste grupo de idade.

Nos Estados Unidos, uma análise recente de dados dos seguros de saúde privados mostrou que o número de crianças e adolescentes diagnosticados com diabetes tipo 2 mais que dobrou nos últimos anos, e o aumento parece coincidir com o aumento das taxas de obesidade.

Diabetes tipo 2 cresce em paralelo com a obesidade

Dr. Abbasi e colaboradores, avaliaram prontuários médicos do banco de dados UK Clinical Practice Research Datalink (CPRD), que engloba 375 clínicas de atenção primária na Inglaterra.

Especificamente, eles coletaram dados demográficos de indivíduos com idades entre dois e 15 anos que tiveram o índice de massa corporal (IMC) medido entre 1994 e 2013, juntamente com qualquer diagnóstico de diabetes mais de 12 meses após o início do registro de um indivíduo no CPRD.

Considerou-se que as crianças eram portadoras de diabetes tipo 1 se tinham prescrição de insulina, mas não de uma medicação oral hipoglicemiante. O diabetes tipo 2 foi definido como: um diagnóstico da doença, apenas uma prescrição de medicação oral hipoglicemiante ou um diagnóstico de diabetes mellitus ou HbA1c ≥ 6,5% sem prescrição de insulina.

A população consistiu de 369.362 indivíduos com um IMC disponível. A média de idade foi de 8,8 anos, e 49,5% eram do sexo feminino. Em geral, 12,3% dos indivíduos tinham sobrepeso, enquanto 16,7% foram classificados como obesos.

Houve 654 casos novos de diabetes tipo 2 e 1318 casos de diabetes tipo 1 durante o período de estudo.

A incidência de diabetes tipo 2 aumentou de 6,4 por 100.000 pessoas em 1994-1998 para 33,2 por 100.000 pessoas em 2009-2013. Para o diabetes tipo 1, entre os mesmos dois períodos, a incidência aumentou de 38,2 para 562,1 por 100.000 pessoas.

A incidência de diabetes tipo 2 aumentou significativamente entre crianças com excesso de peso, de 0 por 100.000 pessoas em 1994-1998 para 22,8 por 100.000 pessoas em 2009-2013 (P = 0,01) e entre aqueles com obesidade, de 5,7 para 103,3 por 100.000 pessoas (P < 0,01).

Indivíduos obesos, que constituíram 47,1% dos casos de diabetes tipo 2, tiveram um risco significativamente aumentado de incidência de diabetes tipo 2 em comparação com indivíduos de IMC normal, a uma odds ratio (OR) de 3,7 e com uma taxa de incidência de 4,33.

Ao avaliar o IMC como uma variável contínua, a equipe também observou que cada aumento de um desvio-padrão no escore Z do IMC foi associado a uma odds ratio de novo caso de diabetes tipo 2 de 1,6.

Não houve associações significativas entre obesidade ou IMC e o risco de desenvolvimento de diabetes tipo 1.

A equipe afirma: “Em conjunto, atualizamos evidências observacionais de que a taxa de incidência de diabetes tipo 2, embora menos comum que o tipo 1, está aumentando entre as crianças e jovens do Reino Unido em paralelo com o aumento da obesidade infantil nas últimas décadas”.

O Dr. Abbasi observou que o estudo levanta algumas questões sobre como priorizar o investimento na prevenção e tratamento do diabetes tipo 2 em crianças e adultos jovens, tais como: “O que exatamente contribui para a incidência e o impacto do diabetes em crianças e adultos jovens e em que extensão?”

Isso é especialmente importante, enfatizou ele, uma vez que as crianças que desenvolvem diabetes tipo 2 “estão em risco de desenvolver outras complicações”, e os custos totais públicos e para o sistema de saúde, bem como o impacto geral do diabetes provavelmente serão maiores que em alguém que desenvolve a doença mais tardiamente na vida.   

Os autores declararam não possuir conflitos de interesses relevantes.

Fonte:http://portugues.medscape.com/verartigo/6501172