Autismo ligado a infecção por herpes na gestação



Altos títulos de anticorpos maternos contra o vírus herpes simples 2 (Herpes Simplex Virus, HSV-2) na metade da gestação foram associados a um maior risco de transtorno do espectro do autismo, sugere um novo estudo.

“Este é o primeiro estudo a informar uma associação entre os títulos de anticorpos maternos contra o vírus herpes simples e o risco de transtorno do espectro do autismo para o feto”, escrevem os pesquisadores, tendo como primeira autora Milada Mahic, pós-doutoranda em pesquisa no Center for Infection and Immunity da Columbia University Mailman School of Public Health, em Nova York.

“Acreditamos que a resposta imunológica da mãe ao vírus herpes simples 2 pode comprometer o desenvolvimento do sistema nervoso central do feto, aumentando o risco de autismo”, disse a Dra. Milada em um comunicado à imprensa.

O estudo foi publicado on-line em 22 de fevereiro no periódico mSphere, revista da American Society for Microbiology.

Risco com especificidade de sexo?

As infecções maternas durante a gestação têm sido implicadas em vários transtornos do desenvolvimento neurológico, incluindo o transtorno do espectro do autismo.

A equipe de Columbia avaliou os possíveis vínculos entre a exposição materna a cinco patógenos: (To xoplasma gondii, vírus da Rubéola, Citomegalovírus, HSV-1 e HSV-2 – ToRCH) durante a gestação e o risco de transtorno do espectro do autismo para o feto. A exposição aos assim chamados patógenos “ToRCH” durante a gestação pode levar ao abortamento e a defeitos congênitos.

Os pesquisadores examinaram amostras de sangue de 442 mães de crianças diagnosticadas com transtorno do espectro do autismo e de 463 mães de crianças sem o transtorno, que foram incluídas no estudo Autism Birth Cohort (ABC), realizado pelo Norwegian Institute of Public Health. As amostras de sangue materno foram obtidas por volta da 18ª semana de gestação e no momento do parto.

Altos títulos de anticorpos IgG contra o vírus herpes simples 2 no plasma materno na metade da gestação (mas não no momento do parto) foram associados a maior risco de transtorno do espectro do autismo nos bebês do sexo masculino.

Após o ajuste pela paridade e pelo ano de nascimento da criança, o aumento do título de anticorpos contra o HSV-2 de 240 para 640 unidades arbitrárias por mililitros esteve associado a uma probabilidade cerca de duas vezes maior de transtorno do espectro do autismo nos bebês do sexo masculino (odds ratioOR = 2,07; intervalo de confiança, IC, de 95% de 1,06 a 4,06; P = 0,03), relatam os pesquisadores.

O número de meninas com transtorno do espectro do autismo (n = 78) no estudo foi “pequeno demais para concluir que o efeito seja determinado pelo sexo; no entanto, o autismo tem um viés de gênero desviado para o sexo masculino”, observam os pesquisadores no artigo.

Não foi encontrada nenhuma associação entre o transtorno do espectro do autismo e a presença de anticorpos IgG para os outros quatro patógenos ToRCH.

“A causa ou as causas da maioria dos casos de autismo são desconhecidas”, declarou o autor sênior Dr. W. Ian Lipkin, médico e diretor do Center for Infection and Immunity na Columbia University. “Mas as evidências indicam algum papel tanto para os fatores genéticos quanto para os fatores ambientais. Nosso trabalho sugere que a inflamação e a ativação imunitária podem contribuir para esse risco. O vírus herpes simples 2 pode ser um entre vários agentes infecciosos envolvidos”.

Os pesquisadores observam que os altos títulos de anticorpos contra o HSV-2 podem indicar infecção primária recente ou reativação de infecção latente. Apenas 12% das mães soropositivas para o vírus herpes simples 2 referiram lesões herpéticas antes ou durante o primeiro trimestre de gestação, indicando que a maioria das infecções pelo HSV-2 foram assintomáticas.

Os pesquisadores conjecturam que o risco de transtorno do espectro do autismo associado aos altos títulos de anticorpos contra o vírus herpes simples 2 não seja específico ao HSV-2, mas em vez disso reflita o impacto da ativação imunológica e da inflamação em um sistema nervoso vulnerável em desenvolvimento. Os autores dizem que são necessários mais estudos para determinar a necessidade de rastreamento e supressão da infecção pelo vírus herpes simples 2 durante a gestação.

Este estudo foi financiado por subsídios do National Institutes of Health, da Jane Botsford Johnson Foundation, da Simons Foundation Autism Research Initiative, do Norwegian Ministry of Health and Care Services, do Norwegian Ministry of Education and Research e pelo Research Council of Norway. Os autores informaram não possuir nenhum conflito de interesse relevante ao tema.

Fonte:http://portugues.medscape.com/verartigo/6501016