(Reuters Health) – Em pelo menos duas cidades brasileiras a microcefalia parece ter sido endêmica antes do começo da epidemia, relatam pesquisadores.
Estudos prévios sugeriram que a prevalência de microcefalia grave ao nascimento é subnotificada e subestimada.
Usando dados de base populacional das cidades de Ribeirão Preto (RP; 7.798 recém-nascidos) e São Luís (SL; 5.236 nascimentos hospitalares) para o ano de 2010 – antes da epidemia do vírus Zika – o Dr. Antônio A. Silva, da Universidade Federal do Maranhão, em São Luís, e colaboradores, estimaram a prevalência basal e os fatores de risco para microcefalia ao nascimento. De acordo com os padrões do 21º INTERGROWTH, os perímetros cefálicos acima de 2 desvios padrão (DPs) abaixo da média são considerados microcefalia, e acima de 3 DPs abaixo da média são considerados microcefalia grave.
Os achados foram relatados on-line em 5 de janeiro no periódico Pediatrics.
Quando a data da última menstruação (DUM) foi usada para estimar a idade gestacional, a prevalência de microcefalia foi de 3,5% em SL e de 3,2% em RP em 2010, quase 1,5 vezes maior que as taxas normalmente esperadas (2,3%).
A prevalência estimada de microcefalia em RP declinou para 2,5% quando a idade gestacional foi baseada na DUM ou na ultrassonografia obstétrica, quando disponível.
As prevalências de microcefalia grave foram de 0,7% em SL e 0,5% em RP – muito maiores do que esperado e do que previamente relatado em vários estudos nacionais e internacionais.
Fatores de risco associados com microcefalia e microcefalia grave foram os mesmos nas duas cidades: baixa escolaridade materna, viver sem um cônjuge, e restrição de crescimento intrauterino.
Estimativas combinadas mostraram que 83.023 casos de microcefalia, e 16.605 casos de microcefalia grave teriam ocorrido no Brasil em 2010.
“Nosso objetivo com esse estudo não era realizar um diagnóstico de microcefalia, e sim triar a microcefalia”, observam os pesquisadores.
“Assim, recém-nascidos com mais de 3 DPs abaixo da média para idade gestacional e sexo deveriam ser encaminhados para neuropediatras para diagnóstico de microcefalia, enquanto aqueles entre 2 e 3 DPs deveriam ser monitorados de perto por pediatras ou médicos generalistas, e o perímetro cefálico deveria ser monitorado continuamente durante os primeiros anos de vida para um diagnóstico definitivo de microcefalia”.
“Um melhor entendimento da microcefalia e do papel do vírus Zika requer uma vigilância ativa continuada de base populacional, e um estudo epidemiológico (como produzido aqui) na era pós-Zika, com um acompanhamento prospectivo para avaliar tendências e entender os fatores de risco”, escrevem as Dras. Elizabeth Dufort e Jennifer White, do New York State Department of Health, em Albany, Nova York, em um editorial associado.
“Na medida em que o mundo se afasta do intenso interesse na microcefalia e no surto pelo vírus Zika, profissionais da pediatria e a comunidade da saúde pública precisam prosseguir, para ampliar o entendimento dos riscos da microcefalia e outras malformações congênitas associadas ao vírus, assim como as causas e intervenções preventivas da agora revelada ‘endemia silenciosa de microcefalia'”.
Texto completo em: https://portugues.medscape.com/verartigo/6501945